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A terapia com células CAR-T surgiu nos Estados Unidos e começou a ser aplicada experimentalmente em pacientes de câncer terminal no início dos anos 2010. Os resultados positivos levaram a Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, a aprovar por unanimidade o uso da terapia CAR-T para o combate ao câncer em 2017. No ano seguinte, em 2018, o tratamento rendeu aos seus descobridores, James P. Allison e Tasuku Honjo, o prêmio Nobel de Medicina.

No Brasil, a terapia com células CAR-T é desenvolvida no Centro de Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. O primeiro voluntário brasileiro, que recebeu o tratamento experimental há dois anos, alcançou a remissão total de um linfoma em estágio terminal. Outros pacientes que optaram pelo tratamento também tiveram remissão. Até hoje, a terapia celular se mostrou altamente eficaz contra casos linfoma e leucemia linfoide aguda, dois tipos de câncer de sangue.

A tecnologia CAR-T Cell é um tipo de imunoterapia que utiliza linfócitos T, células do sistema imune responsáveis por combater agentes patogênicos e matar células infectadas. O tratamento consiste em retirar e isolar os linfócitos T, ativá-los, “reprogramá-los” para conseguirem identificar células do câncer e depois inseri-los de volta no organismo do indivíduo. Nesse momento, as células de defesa modificadas voltam com mais força para eliminar as células tumorais. Todo esse processo, desde a coleta, modificação das células e aplicação no paciente, pode durar em torno de 60 dias.

CAR-T é como são chamadas as células que são usadas na terapia. O nome CAR-T vem da união de dois conceitos: CAR é a sigla em inglês para receptor quimérico de antígeno (chimeric antigen receptor) e T vem de linfócitos T, células do organismo responsáveis por sua defesa. Na terapia celular, o linfócito T é alterado para exibir em sua superfície os receptores CAR e se tornar ainda mais potente no combate ao câncer – ele deixa de ser uma célula T para se transformar em uma célula CAR-T.

A terapia com células CAR-T é considerada um dos tratamentos mais inovadores da medicina e representa uma revolução no tratamento do câncer. Ele tem altíssima complexidade e é personalizado, pois usa as células de defesa do próprio paciente para combater a doença.

Após a coleta do sangue, o médico determina parâmetros celulares para separar apenas o grupo celular de interesse (as células T). Depois, os pesquisadores aplicam em laboratório um reagente que estimula a ativação dessas células. Uma vez que os linfócitos T são ativados e multiplicados, eles são colocados em contato com um vetor lentiviral – um vírus modificado incapaz de causar doença. Esse vetor contém a informação genética de um receptor que reconhece o antígeno chamado CD-19, que é expresso na superfície das células tumorais.

Por conter a informação genética do receptor do CD-19, o vetor faz a célula T expressá-lo em sua superfície, originando as células CAR-T que serão usadas na terapia – e que se ligarão ao CD-19 presente nas células tumorais. O produto é congelado e passa por rigorosos testes de controle de qualidade, para só depois ser infundido no paciente em um processo semelhante à transfusão de sangue. De volta à corrente sanguínea, esse conjunto de células CAR-T reconhece e se liga às células do câncer, induzindo a morte celular.

Em breve o protocolo para um estudo clínico sobre a terapia com células CAR-T será submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A expectativa é que a fase 1 do estudo tenha início em outubro de 2022. Poderão participar 30 pacientes com câncer de sangue – especificamente, linfoma não Hodgkin de células B.

Por ainda ser experimental e uma descoberta relativamente recente – os primeiros casos de sucesso aconteceram há cerca de dez anos, nos Estados Unidos –, a terapia com células CAR-T não está disponível em larga escala e é muito cara: ela chega a custar US$ 500 mil por paciente.

A parceria entre Butantan, Hemocentro de Ribeirão Preto e USP na construção das duas unidades tem o objetivo de ampliar o acesso ao tratamento e fazer com que ele chegue ao Sistema Único de Saúde (SUS). Até então, a terapia só era oferecida Centro de Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, e em pequena escala – um paciente em tratamento por vez. A criação de duas unidades de terapia celular (uma em Ribeirão Preto e outra em São Paulo) vai aumentar essa capacidade para até 300 pacientes por ano.

A função do Butantan é oferecer sua capacidade de produção, experiência com processos conduzidos sob boas práticas de fabricação, desenvolvimento clínico e entrega de produtos imunobiológicos para tentar reduzir ao máximo o custo da terapia e viabilizar sua disponibilização para a população brasileira de forma gratuita por meio do Sistema Único de Saúde.